Quanto custa contratar Marketing e Comunicação?
Sabemos que esta é uma pergunta de um milhão de euros – mesmo que a maioria dos serviços de Marketing e Comunicação não chegue a custar tanto! Embora o conhecimento do valor destes serviços ajude a planear os nossos negócios e a estabelecer metas de crescimento, a oferta é múltipla, díspar e também o são os valores praticados.
Recentemente, tivemos necessidade de pedir orçamentos para um cliente e constatámos que serviços semelhantes vinham orçamentados com dígitos e múltiplos de diferença (em simultâneo!), consoante os fornecedores. Como compreender, distinguir, avaliar e escolher de entre estas diferentes propostas de valor?
Aqui ficam algumas pistas para reflexão.
“If you pay peanuts, you get monkeys” [Se queres pagar amendoins (trocos), recebes macacos”], dizia, com graça, uma das nossas clientes há pouco tempo, comentando este tema.
Ou, como nos ditados de antigamente: o que é barato sai caro; quando a esmola é muita, o pobre desconfia; quem tudo quer, tudo perde.
Esta é a nossa opinião de experiência feita. São critérios justos para construir preços dos serviços de Marketing e Comunicação:
- Resultados esperados por objectivo;
- Horas de trabalho despendidas no projecto;
- Experiência e formação especializada;
- Custos fixos de ter uma empresa aberta a funcionar na legalidade.
Explicando:

1. Marketing e Comunicação servem para aumentar as vendas.
Podem servir para outras coisas intermédias e instrumentais, também – mas, se não servem para aumentar vendas, não servem para nada.
Por isso costumo dizer, sem meias-palavras: se não tem dinheiro para Marketing e Comunicação, não tem dinheiro para nada no seu negócio. Vai trabalhar para aquecer e não vai conseguir escoar o que preparou com tanto cuidado. E é uma pena.
Se Marketing e Comunicação servem para aumentar as vendas, pergunte a quem está a dar-lhe orçamento quais são os resultados esperados para o investimento que vai fazer. Perceberá logo a preparação de quem está do outro lado para lidar com esta pergunta. E conseguirá calcular se o que vai gastar será compensado pelo que vai ganhar.
Como frisava um Administrador de uma empresa onde trabalhei, ao falar com o patrão: “ouça, não é caro, é só muito dinheiro”. Há uma grande diferença!

2. Ao contrário do que acontece em Medicina, ou em Direito, que pagamos principescamente à hora sem regatear, tem-se pouca noção e pouca disponibilidade para pagar o tempo real de trabalho dos profissionais de Marketing e Comunicação.
Sabe aquela reuniãozinha que não estava prevista? Aqueles telefonemas que, somados, se prolongam por horas? As revisões à imagem que ficava melhor de pernas para o ar? A súbita ideia de que o texto devia ir também em inglês, apesar disso não estar no acordado inicialmente? Pois é.
Um orçamento justo para ambas as partes deve explicitar o número de horas de trabalho nele contempladas, como fazem quase todos os profissionais liberais com auto-estima.
Há uma cultura de transparência a construir, do lado de quem vende e do lado de quem compra Marketing e Comunicação. Se o seu fornecedor é transparente consigo a respeito das horas de trabalho que estima investir no projecto, provavelmente trabalhará com mais eficácia.

3. Começando com a mesma lógica do ponto anterior: enquanto um cliente dificilmente se vira para o médico ou o advogado a dizer “isso também eu fazia” ou “tenho um primo que me desenrasca e não preciso de contratar ninguém”, generalizou-se a crença de que Marketing e Comunicação é algo que “qualquer um faz”.
Graças a isso, vemos hecatombes escritas, gráficas e audiovisuais diariamente. E quantas dessas coisas feitas “em casa” chegam a ter resultados? Lá vem a velha piada do carrossel: “menina bonita não paga, mas também não anda”. Não é proveitoso pensar assim.
Quem percebe do assunto terá por certo exemplos anteriores de sucesso compatíveis com o seu nível de experiência, que irão dar-lhe alguma segurança na hora de contratar.
Se vai contratar barato, não espere essas qualidades (ou então o seu fornecedor ficou rico na Bolsa e vai trabalhar para si só para se entreter; se assim for, apresente-mo!).

4. O assunto de que todos os fornecedores têm vergonha de falar e que quase todos os compradores preferem fingir que não sabem.
Já experimentou somar todos os custos fixos da sua empresa num ano e dividi-lo pelo número de horas úteis de um ano (por simples exemplo: 8h por dia x 5 dias por semana x 22 dias por mês, menos os feriados que calham em dias de semana)?
Então experimente. E verá que, com todos os encargos que uma empresa tem e com os impostos em vigor em Portugal, é absolutamente impraticável cobrar 5, 8 ou 10 Euros à hora, como muitas vezes se vê. “If you pay peanuts…”.
Resumindo e concretizando, com alguns exemplos:

1. Precisa de uma newsletter mensal.
Considere umas 2h para as primeiras conversas com o profissional, para estabelecer objectivos e preferências.
Se o profissional for bom, vai percorrer o seu histórico de comunicação anterior para identificar os seus temas-chave, o seu estilo de comunicação, a sua audiência. Vai também comparar os seus conteúdos com os da sua concorrência. Facilmente investirá 5h neste trabalho.
Todos os meses, terá que perguntar-lhe a si o que há de novo, o que quer destacar – reuniãozinha de 1h pelo menos, não?
Precisará de encontrar fotografias de cabeçalho e de conteúdos, editá-los e personalizá-los ao seu gosto (e revê-los, porque raramente o cliente gosta da primeira proposta). Bote umas 2h por mês nisso.
Irá escrever, editar, corrigir – outras tantas. Se calhar vai surgir a ideia de fazer um videozinho (aquela coisa inofensiva que só dura 2 min. ao espectador e levou uns pares de horas a filmar, cortar, melhorar, divulgar…).
E terá que gerir a plataforma da qual fará o envio, importar emails para as audiências, personalizar os destinatários para os conteúdos não irem parar ao Spam…truques e coisas; digamos 1h por mês para uma base de dados tranquila.
Analisará os resultados e dar-lhe-á conta disso: outra hora por mês.
São perto de 90h-100h anuais, 7,5h por mês pelo menos.
Se há empresas a cobrar €100/mês, outras a pedir €180, outras a levar €370…é fazer as contas. Posto em perspectiva, mesmo o valor mais elevado de €37 à hora (que não é o nosso!) nem parece assim tão ganancioso, pois não?

2. Quer contratar a gestão das suas redes sociais online.
Pronto(a)? Então comece a contar.
No arranque do projecto, ou de cada nova etapa, há que: conhecer objectivos da marca, fazer análise SWOT com monitorização do histórico da marca e da concorrência, delinear grandes temas para o ano, criar um calendário semanal–tipo, para definir os temas por dia da semana e por plataforma; criar os templates de publicação para cada plataforma; criar os templates de ocasiões especiais, efemérides, calls to action; criar páginas de redes sociais que se calhar ainda não existiam e templates de cabeçalhos que ainda não existiam; definir hashtags a usar; criar cargos de página; criar uma conta Hootsuite ou similar para gerir os agendamentos; configurar Gestor de Negócio e Gestor de Anúncios no Facebook (quando possível e aplicável); definir os indicadores estatísticos a monitorizar e o formato do relatório mensal de estatísticas.
De modo nenhum isto demora menos de 10-15h.
As tarefas regulares são: reunião semanal com cliente para pedir aprovação para as semanas seguintes e receber mais pedidos e ideias (muitos), análise dos temas para o mês; escolha dos materiais audiovisuais a distribuir pelo mês, na mancha total das plataformas: fotos, vídeos, materiais de divulgação da marca; criação de novos materiais audiovisuais a distribuir pelo mês: fotos, vídeos, etc.; alocação de cada material audiovisual a cada dia do mês, no calendário; criar rotinas de divulgação de certas rubricas regulares; edição do material audiovisual a usar (fotos, vídeos – com thumbnail, frame de abertura, legendagem, upload directo em cada plataforma para o algoritmo não se zangar); colocação do material visual nos templates; escrita do copy para cada post (se for em várias línguas, aumenta o trabalho), esclarecimento de dúvidas técnicas com o cliente; preparação de stories; planeamento de anúncios; pedido de aprovação ao cliente; ajustes, muitos ajustes; agendamentos; verificação de que o post foi publicado; republicação dos posts nos grupos online a que a marca tiver aderido; análise diária da caixa de mensagens e resposta directa (se fácil) ou reencaminhamento ao cliente.
Sabe aquela ideia de “com 1h por dia faço eu isto”? Nós por aqui levamos umas 4/5h por dia – por cliente, claro.
Mensalmente, o seu profissional deverá ainda fazer: levantamento das estatísticas em todos estes sítios: Facebook “normal”, Facebook Business Suite, Facebook Gestor de Anúncios, Facebook Estúdio de Criação (e ainda há um Facebook Analytics), Instagram post-a-post (que dá cá um jeito…), Instagram estatísticas, LinkedIn análises (é o único que tem tudo no mesmo sítio) e escrita do relatório estatístico mensal. Não é coisa que se faça bem numa hora, garanto.
Se o cliente quiser uma ajudinha para criar a Loja no Facebook ou no Instagram, vá mais um parzito ou 2 de horas para começar, fora o tempo da manutenção.
Há quem diga que faz isto por 100 e poucos Euros por mês. Pagará o quê? 5 posts às três pancadas? Uma escrita que chumbaria no exame da 4ª classe? Imagens copiadas da net que, ou farão o cliente arriscar uma multa por plágio, ou serão iguais a todas as outras imagens de stock que por aí andam? Também nos passaram por aqui orçamentos de €3.500 por mês para isto. Nunca experimentámos (mas ficámos com curiosidade).
Agora pense: no seu próprio negócio, 5h por dia valem quanto? Talvez ajude.

3. Está na hora de renovar a imagem visual.
Por isso, vai pedir orçamento uma nova apresentação, um novo logotipo, um estacionário de cara lavada.
Eu não faço design, mas contrato bastante. Já contratei dos €50 aos €500 para o “mesmo” trabalho. O que concluí?
Que o barato que pago me saiu caro em propostas desequilibradas, com falta de bom-senso, com desatenções (gralhas, erros ortográficos, falta de respeito pelos códigos de imagem dos clientes), que vão obrigar-me a mim e ao cliente a perder tempo a rever, criticar, mandar alterar, a corrigir em cima das correcções – e a ficarmos aborrecidos que nem uns perus, para falar francamente.
Com uma proposta mais cara, a explicação que obtive do meu fornecedor foi que ia fazer o trabalho de analisar o histórico do cliente e a pesquisa de propostas da concorrência, garantir que não entrava em imitação ou plágio, escolher cuidadosamente cores e tipos de letra que reflectissem o espírito da marca, etc.
Em conversa, parecia lírico. Mas à vista, saiu mais bonito. E não era isso que se queria?