Diz-se que redigir a Missão de uma organização é uma autêntica missão!
Quer ver porquê?
Comecemos com alguns exemplos de Missão que encontramos nos websites de grandes marcas portuguesas:
- “Inovar constantemente, oferecendo soluções de logística e serviços de suporte, com qualidade, focados nas necessidades dos clientes.”
- “Corresponder às expectativas dos nossos consumidores assegurando a total satisfação dos nossos clientes, através de um modelo de negócio assente na criação e partilha de valor sustentável.”
- “Ser uma empresa global, reconhecida por transformar, de forma inovadora e sustentável, a floresta em produtos e serviços que contribuam para o bem-estar das pessoas.”
- “Caminhar ao lado dos nossos Clientes, antecipando as suas necessidades e perseguindo objetivos e oportunidades. Contribuir para o desenvolvimento coletivo e individual das nossas equipas.”
- “Prestação de serviços na área da mobilidade e dos transportes, pautando o desenvolvimento da sua atividade por um conjunto de princípios e valores que assentam numa visão de sustentabilidade económica, social e ambiental”.
Se sim, que bom para si. Olhe – eu não poderei dizer o mesmo.
Haja pelo menos duas coisas em que não possamos culpar os tempos. Os clássicos Missão, Visão e Valores das organizações sempre tiveram alguma propensão para soar a tretas. E, mesmo antes de se terem desdobrado em declinações cheias de subtileza, como Propósito, Filosofia, Compromisso, Princípios e outros encantos, já eram consistentemente usados de forma errada por uma grande abundância de instituições.
Fenómenos frequentes, que nos melhores panos têm caído:
- Trocar a Missão com a Visão, ou trocá-las com quaisquer outras coisas que, helàs, não são Missão nem Visão.
- Escrever enormes bulas de medicamento, ou uma descrição de funções em que tudo pode acontecer, bem como o seu inverso.
- Conceber uma Missão só para o próprio umbigo e não evidenciar qualquer valor para os públicos da organização (especialmente, os Consumidores e/ou Clientes).
- Criar uma Missão com a qual os Colaboradores não conseguem identificar-se.
- Propor uma Visão na qual a marca é o centro do universo futuro e nada mais se perspectiva em seu redor.
- Redigir algo tão obscuro, vago, lírico e/ou e em estado gasoso como grande parte das marcas actuais parece estar empenhada em fazer – como “fazer as pessoas felizes”. Sim, claro, mas como?
Aqui ficam exemplos de que gostamos:
- Missão do IAPMEI: “Promover a competitividade e o crescimento empresarial, assegurar o apoio à conceção, execução e avaliação de políticas dirigidas à atividade industrial, visando o reforço da inovação, do empreendedorismo e do investimento empresarial nas empresas que exerçam a sua atividade nas áreas sob tutela do Ministério da Economia, designadamente das empresas de pequena e média dimensão, com exceção do setor do turismo e das competências de acompanhamento neste âmbito atribuídas à Direção-Geral das Atividades Económicas”.
- “A Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem como missão a criação de valor para a sociedade portuguesa, prestando serviços bancários de qualidade aos particulares e às empresas, contribuindo assim para a melhoria do bem-estar das famílias portuguesas e para o desenvolvimento do setor empresarial, gerando a rendibilidade adequada para o acionista”.
- Visão dos CTT: “Ser o parceiro de referência das empresas, desenvolvendo o e-commerce e simplificando a sua presença física e digital. Ser a marca de confiança das pessoas nos envios e nos serviços financeiros e seguros”.
- Visão da Gulbenkian Ciência: “Ser uma instituição de investigação científica de topo onde os indivíduos colocam questões científicas originais num ambiente multidisciplinar, internacional e colaborativo. Promovemos a descoberta em benefício da humanidade a todos os níveis, alinhados com a visão da Fundação Gulbenkian”.
A Missão fica melhor, a meu ver, com uma pitada de aspiração vencedora, isto é, o que a organização ambiciona ser. Assim, a Missão incluirá tanto o público interno como os públicos externos.
Por exemplo:
- Missão do Hospital Luz Saúde: “Alcançar os melhores resultados de saúde na perspetiva dos doentes, através de um processo de diagnóstico e tratamento rápido e eficaz com respeito absoluto pela sua individualidade, numa organização capaz de atrair, desenvolver e reter pessoas excecionais”.
Quanto à Visão, não, não é o futuro da sua organização – é o futuro do mundo, para o qual a organização pode e deve dar um contributo.
- Tal como em: “A visão da TravelTailors é a felicidade dos viajantes através de viagens de sonho preparadas à medida”.
E quanto aos outros conceitos?
- Propósito: o mesmo do que Missão.
- Valores, Filosofia, Compromisso, Princípios: são, todos, crenças fundamentais que guiam o comportamento e as decisões da organização, na sua relação com os públicos e o mundo em geral.
Conselho: escolha uma só destas terminologias e identifique poucos, credíveis e praticáveis.
Trocamos impressões sobre a Missão, a Visão e os Valores (ou conceitos homólogos) da sua organização?
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