No news is good news

No News is Good News?

Informação é Poder?

Ah, the news! Lembro-me de uma senhoria que tive, já velhota, que mal saía à rua e achava que a vida “lá fora” era igual ou pior do que diziam noticiários. E que isto foi muito antes de haver CMTV!… Ela acreditava piamente que seria estripada por taxistas, roubada por jovens viciosos e enganada por outras velhas como ela, mal tivessem ocasião. 

A culpa não era toda dela. O cérebro humano tem uma atracção de mau-gosto para a catástrofe e vicia-se facilmente nela: está provado (chamam-lhe doom scrolling). E a escolha de informação é sabotada por muitos conteúdos elaborados, veiculados e propagados por grupos de poder, que têm uma agenda própria (agenda-setting, também estudada cientificamente). 

Ana Pedro (2025) refere a “monetização da atenção” incentivada por marcas, redes sociais e plataformas de entretenimento, a par da sofisticação crescente dos algoritmos” e lembra que “quanto mais tempo percorremos determinado conteúdo, mais receitas obtêm as plataformas que o disponibilizam“. 

Por isso, quanta informação é realmente boa para si?   

Informação para quê?

O Digital News Report 2024 do Reuters Institute, baseado em inquéritos a quase 100.000 pessoas em 47 países, mostra que as necessidades de informação mais valorizadas globalmente são: 

  • manter-se atualizado(a),
  • aprender mais e
  • obter diferentes perspectivas.

Contudo, o público lamenta a falta de diversidade de perspectivas e de notícias que transmitam esperança. nos conteúdos noticiosos que lhe são oferecidos. Além disso, o relatório revela uma crescente fadiga noticiosa, com 39% dos inquiridos a evitarem notícias ocasionalmente ou frequentemente. Este fenómeno é mais pronunciado entre os jovens e as mulheres, que muitas vezes consideram as notícias repetitivas, negativas e ansiogénicas. 

Se acha que tem de estar a par de tuuudo para ser bom profissional na sua área (ou simplesmente parecer uma pessoa interessante), mas se esse esforço está a destruir-lhe a atenção, a retenção, a selecção, a imaginação e a decisão, já para não falar na não menos importante alegria – então, pergunte-se se essa informação é assim tão boa para si.

Como sentir-se mais livre para ter na cabeça aquilo que é seu (e não apenas aquilo que é dos outros)?

Proteger o foco requer intencionalidade, disciplina e consciência sobre as forças que o disputam“, diz Ana Pedro (2025). Até já falámos antes do uso do tempo. Um consumo noticioso excessivo, sobretudo centrado em alertas constantes ou conteúdos sensacionalistas, pode ter efeitos negativos na saúde mental, contribuindo para estados de ansiedade. Em vez de evitar totalmente as notícias, Rebecca Knight (2025) sugere-nos que é possível:
 

Selecionar fontes e conteúdos com critério 

  • Considere optar por fontes jornalísticas fiáveis e alinhadas com padrões éticos.
  • A escolha dos conteúdos deve permitir-lhe ampliar e desenvolver os seus interesses pessoais e profissionais, dando uma maior utilidade prática à informação.
  • A leitura directa das notícias originais tende a gerar menor carga emocional do que as reacções partilhadas nas redes digitais.
  • A leitura de jornais em formato impresso pode promover um consumo mais controlado, atento e sereno da informação.

Definir momentos específicos para o consumo de notícias 

  • Em vez de aceder às notícias de forma impulsiva ao longo do dia, pode ser mais vantajoso estabelecer horários próprios para esse fim.
  • A criação de rotinas, como adiar a leitura de notícias até após o pequeno-almoço ou evitar o contacto com elas antes de dormir, contribui para uma relação mais saudável com a informação e ajuda a reduzir a sobrecarga de conteúdos.
  • Substituir o hábito de verificar as notícias por actividades com efeito calmante é uma forma eficaz de contrariar padrões de consumo compulsivo.

Perguntava Viktor Frankl, psiquiatra sobrevivente do Holocausto: “between how you feel and how you react lies your freedom. After that feeling, what are you going to do about it?” 

Artigos Recentes