O Menezes engoliu em seco.
A sua nova funcionária não tinha papas na língua – uma língua, aliás, que se adivinhava muito talentosa. Afinal, era fluente em inglês, francês e espanhol.
O Menezes não estava acostumado a este discurso directo.
Como resolver este confronto súbito?
“Talvez se fosse mais flexível…”
O pobre do Menezes ainda só tinha experimentado o tradicional, o ortodoxo, o vanilla, se preferirmos: entrar no escritório às 9 e sair às 17. Mas rapidamente percebeu que estava na presença de uma funcionária que já tinha experimentado um pouco de tudo.
Se o Menezes queria satisfação, ia ter de sair da sua zona de conforto e oferecer alguma flexibilidade nos horários. Em vez de exigir que tudo fosse feito no escritório, como sempre lhe ensinaram, o Menezes teria agora de permitir que o trabalho fosse feito noutros locais: no carro, na cozinha, no sofá, no chão… Desde que a ligação wifi se mantivesse firme, claro.
É melhor mostrares que estás a gostar, Menezes!
Havia ainda outro pequeno pormaior… O Menezes era de outra época, e ainda via o trabalho como algo que se faz calado e apenas para fins produtivos. No passado, o Menezes vira as suas performances recebidas apenas com um silêncio compenetrado e um aceno de cabeça, o que lhe dizia muito pouco sobre o grau de satisfação da outra parte.
Mas, com esta nova funcionária, isso já não pegava. O Menezes percebeu que esta era de uma geração diferente, com menos tabus, sem medo de perguntar “Assim está bom?” ou “E se eu fizer antes isto?”. Ora, uma funcionária assim precisa de feedback, precisa de saber se o que está a fazer está a agradar ou não – sob pena de parar inteiramente.
“O que é que eu sou para si, Menezes?”
No entanto, compreendeu o Menezes, por muito moderna que a nova funcionária pudesse ser, no final do dia iria procurar o que todas procuram: estabilidade. Uma funcionária que não acreditasse que haveria futuro na sua relação profissional, não iria dar o seu melhor.
Por isso, o Menezes teve de sentar-se e ter uma conversa muito séria sobre o futuro. Uma conversa que, no passado, sempre evitou ter. Muitas pessoas anteriores tinham ido e vindo, sem que o Menezes tivesse sido honesto relativamente às suas pretensões para com elas, fazendo-as sentir-se descartáveis.
Mas com esta nova funcionária seria diferente. O Menezes percebeu que não iria querer perdê-la, que seria impossível encontrar outra assim.
Felizmente, o Menezes tinha o contacto da QA…
Por isso continua satisfeito.
OPINIÃO QA: Antunes, CEO
“Eu ensinei ao Menezes tudo o que ele sabe, e é uma tristeza muito grande para mim vê-lo a evoluir como líder e como ser humano. Estou no mundo dos negócios há mais de 35 anos, e nunca ponderei sequer esta fantochada do teletrabalho, a modernice de dar feedback ou o fim da picada que é oferecer estabilidade à rapaziada. Mantenho-me igual, os resultados caem de ano para ano, e é assim que eu gosto. Enquanto houver malta nova para entrar e substituir os criad- perdão, os funcionários que fogem da empresa a sete pés, está tudo bem. Faux pas, Menezes. “