O conceito de verdade por defeito, proposto por Malcolm Gladwell no seu livro “Falar com desconhecidos”, refere-se à tendência humana de aceitar como verdade a primeira impressão que elaboramos sobre um determinado assunto.
Demolindo séculos de ciência, pilhas de livros de gurus best-sellers, camadas de gabarolice e toda uma tradição astrológica sobre como podemos adivinhar o que os outros estão a pensar e caçar mentirosos com a fleuma de uma aranha na teia, o autor dispara: nós, Humanos, somos inerentemente péssimos a julgar pessoas que não conhecemos. Tudo porque tendemos a acreditar nas primeiras impressões que temos de outras pessoas, mesmo que sejam enganosas.
A verdade por defeito pode ser perigosa, porque pode levar a uma forma de preconceito chamada viés de confirmação.
Tanto no contexto das relações pessoais como das relações organizacionais, a verdade por defeito pode gerar mal-entendidos e conflitos, já que as pessoas tendem a interpretar as ações e palavras dos outros da maneira que melhor se encaixa nas suas próprias crenças e expectativas. Por exemplo, uma pessoa pode interpretar uma expressão facial como sendo de raiva quando, na verdade, significa apenas confusão. Um enamorado pode colher esperança de um e-mail anódino que, objectivamente, não tem uma linha de compromisso.
E, claro, pode levar a negociações prejudiciais. Os investigadores descobriram que os indivíduos eram mais propensos a acreditar nas declarações de outras pessoas quando essas declarações eram feitas por alguém que parecia ser honesto e confiável, sendo menos propensos a questionar as primeiras impressões que tinham de outros indivíduos quando essas impressões eram positivas.
Mesmo profissionais experientes e com muita formação em comportamento humano caem como patinhos, por isso, caro(a) leitor(a), não se sinta vexado(a)! Saiba que esta tendência acontece porque:
- Só conseguirmos processar uma pequena quantidade de informação de cada vez, o que nos torna vulneráveis a informações que nos chegam de forma rápida e fácil.
- O nosso desejo de simplificar a realidade, que nos leva a procurar padrões e explicações simples para os acontecimentos.
A parte má é que estamos obviamente em desvantagem para resolver os problemas do País nas eleições que se adivinham. A parte boa é que há uns bons milhares de anos que a Humanidade sobrevive a isto (à verdade por defeito, quero dizer; aos nossos políticos, não está provado nem aconselhamos que o tente).
A confiança é essencial para a cooperação humana. Quando as pessoas confiam umas nas outras, estão dispostas a criar alianças, trabalhar juntas, partilhar informações e assumir riscos. A verdade por defeito é, pois, uma base para a confiança, pois fornece uma presunção de honestidade e confiabilidade.
A verdade por defeito é, ainda, uma premissa fundamental da lei. Nos países civilizados, os cidadãos são consideradas inocentes até que se prove o contrário. Esta presunção é essencial para o funcionamento do sistema legal, pois permite que as pessoas sejam julgadas com base em acções, e não apenas na sua aparência ou nas suas palavras.
Não menos importante, a verdade por defeito agiliza as relações pessoais e profissionais. Quando as pessoas confiam umas nas outras, são mais propensas a serem honestas e abertas umas com as outras. E essa confiança pode levar a relacionamentos mais fortes e duradouros.
Por isso: questione as suas primeiras impressões, recolha outros pareceres e, sempre que precisar, releia alguns conselhos sobre isto. Ou, melhor ainda: