O turismo é um dos sectores-chave para o desenvolvimento da economia nacional. Em 2013, o sector do turismo foi responsável por 5,6% do Produto Interno Bruto, 7,2% do emprego e assume-se como um dos principais sectores exportadores nacionais, sendo mesmo o principal exportador de serviços, com receitas externas de 9250 milhões de euros.
Aliás, as exportações no sector do turismo, medidas pelos gastos feitos por estrangeiros em Portugal, superaram largamente as importações (3.119,7 milhões de euros), resultando num excedente próximo 6130 milhões. Portanto, não fosse o contributo positivo deste sector e Portugal teria novamente registado um défice externo e um défice comercial. Mesmo em termos evolutivos, o elevado potencial atribuído ao turismo nacional tem sido justificado pelo crescimento progressivo que este sector tem registado desde 2003, o qual foi apenas interrompido em 2009, num ano de forte retração da atividade económica mundial.
Apesar da sua pequena dimensão, Portugal é hoje um destino turístico
de referência a nível mundial, cujo prestígio e notoriedade têm vindo a
consolidar-se de forma sustentada. Aliás, nas últimas décadas o sector do turismo tem contribuído de forma decisiva para renovação da própria imagem externa do país. Portugal deixou de ser visto apenas como o país dos três Fs (Futebol, Fado e Fátima) e passou também a ser reconhecido como um destino de excelência por diversos atributos turísticos ,como o seu clima, praias, paisagens, vinhos, gastronomia e hospitalidade. São já vários os prémios internacionais atribuídos a Portugal por entidades conceituadas no sector do turismo.
Apenas no ano de 2013, o turismo de Portugal somou mais de 50 distinções, entre as quais se destaca a eleição do país como melhor destino mundial pela Globespots. Pelos World Travel Awards Europe, considerados os óscares do turismo europeu, destacam-se ainda a eleição do Algarve como melhor destino de praia e melhor destino de golfe da Europa, a Madeira como melhor destino insular da Europa e Lisboa como melhor destino para estadas de curta duração da Europa. Também o próprio vinho português desfruta hoje de uma fi rme reputação e prestígio a nível internacional, sendo considerado um dos maiores atributos turísticos de Portugal, muito graças ao crescimento do turismo no Douro, que foi eleito o melhor itinerário turístico fluvial da Europa pelo The Huffi ngton Post.
Apesar do crescente prestígio e afirmação de Portugal como destino
turístico de referência, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), Portugal não figura sequer no top-25 mundial dos principais destinos turísticos, quer em termos de número de turistas estrangeiros quer em termos de receitas de turismo internacional. Por outro lado, a vizinha Espanha é o quarto maior destino turístico a nível mundial em número de turistas estrangeiros e o segundo maior em termos de receitas de turismo internacional.
O que justifica uma performance tão díspar em países com uma oferta turística tão idêntica? Em primeiro lugar, a dimensão geográfica de ambos os países é incomparável, pelo que Espanha como país de maior dimensão terá, à partida, maior capacidade e diversidade de oferta turística em relação a Portugal. A título de exemplo, Espanha tem uma faixa costeira quase três vezes superior à faixa costeira portuguesa, pelo que provavelmente terá também uma capacidade para satisfazer a procura turística do produto praia superior à de Portugal. Em segundo lugar, conforme indicado pelo World Economic Forum no “Relatório de Viagens e Turismo (2013)”, o sector do turismo de Espanha tem um nível de preços tradicionalmente mais competitivo que Portugal. Portanto, esta será, eventualmente, outra das razões que poderão estar a condicionar um maior crescimento do sector do turismo em Portugal, uma vez que um turista, perante duas ofertas turísticas similares, mas com preços distintos, escolherá à partida a mais económica.
É certo que Portugal não pode basear o seu modelo de crescimento em torno do turismo, porém, não deve ser ignorado o potencial e expressividade que este sector assume para a economia portuguesa. Em particular, Portugal não pode descurar a sua competitividade no produto sol e praia, que, apesar da sua natureza sazonal, continua a ser o produto turístico mais procurado a nível mundial.
Por José Ferreira, Vida Económica, 23-05-2014