(Público, 16.07.2009)
O escritor norte-americano Matt Stewart não conseguia encontrar uma editora que publicasse o seu romance de estreia: “The French Revolution” (A Revolução Francesa). Para grandes males, pequenos remédios. Em pequenas doses. O autor está a disponibilizar a sua obra no Twitter, em mensagens de 140 caracteres, até que chegue à palavra “fim”.
“Tanto quanto sei, sou a primeira pessoa a publicar um romance no Twitter”, indicou o autor. “Que melhor lugar para correr riscos que o Twitter?”, disse, citado pelo “Wall Street Journal”.
Os “twitts” (mensagens) começaram a ser disponibilizados a partir de terça-feira, 14 de Julho, dia que marca a Tomada da Bastilha, que deu início à Revolução Francesa. Até agora o perfil criado por Matt Stewart para disponibilizar a sua obra na rede social de micro-blogging (http://twitter.com/thefrenchrev) conta com mais de 195 actualizações e 707 seguidores.
Os “twitts” têm que ser lidos sequencialmente, num movimento de baixo para cima, o que torna a leitura um pouco incómoda e retalhada. O próprio autor está consciente deste problema quando assume que não está à espera que as pessoas leiam todos os “tweets, pelo que irá disponibilizar a obra integralmente através do Scribd.com (aplicação de partilha de documentos), da Amazon.com.
Matt Stewart – que acredita que serão precisos cerca de 3500 “tweets” para publicar online os 480 mil caracteres da obra – diz que a publicação do livro em formato Twitter será uma “experiência sociológica” que lhe permitirá ver “como reage o mundo perante uma longa história contada em fragmentos”.
“Isto é como dar a alguém apenas alguns minutos de uma série de televisão (…) Se conseguirmos fazer com que as pessoas recebam uma mensagem poderosa em 140 caracteres, isso poderá atrair as atenções”, disse Stewart, que vive em São Francisco e trabalha como director de “marketing”, citado pelo “Wall Street Journal”.
O romance conta a história de uma família cujo sucesso começa a ser ameaçado quando alguns “fantasmas” do passado vêm à tona.
O Twitter, que conheceu a verdadeira explosão de popularidade em final do ano passado e nos primeiros meses deste ano, tem vindo a transformar-se num reduto experimental de micro-narrativas. Até já está em marcha um fenómeno apelidado de “Twitteratura”. De acordo com o “The Guardian”, a sucursal nova-iorquina da editora Penguin está apostada em reduzir clássicos da literatura inglesa a um máximo de 20 “tweets”. O projecto é uma criação de dois jovens estudantes de Chicago – Emmett Rensin e Alex Aciman – que se disponibilizaram para adaptar ao formato 140 caracteres de cada vez clássicos universais da autoria de William Shakespeare, Stendhal e James Joyce, entre outros.