Perguntas & Respostas sobre o carro eléctrico
(Público Online, 29.06.2009)
Afinal, o que é um carro eléctrico?
É um veículo que, em vez ter um motor de combustão interna, queimando gasolina ou gasóleo, tem um motor eléctrico. Tal como o primeiro precisa de encher periodicamente o depósito de combustível, o que faz num posto de abastecimento, também o carro eléctrico precisa de carregar, só que usando a rede eléctrica, uma ficha (incorporada no carro) e uma tomada (nos pontos de carregamento, estejam eles junto a casa, ao emprego ou ao posto de abastecimento).
Como é que é conduzir um carro eléctrico?
Como os que existem são experimentais e de pequenas séries, a comparação com os veículos convencionais deve ser cautelosa. Mas há, mesmo assim, há pontos que se podem pôr na balança. Vantagens: motor silencioso; não emite dióxido de carbono; aceleração mais rápida; menor custo do combustível (electricidade). Desvantagens: a curta autonomia, que já foi maior desvantagem, sendo que actualmente chega, em média, aos 130/150 quilómetros; preço até agora desmobilizador, embora os construtores prometam que vai baixar nos próximos anos para valores competitivos.
Um carro eléctrico é 100 por cento verde?
Depende, porque o conceito deve ser aplicado a todo o ciclo de vida do veículo e não apenas ao seu funcionamento, durante o qual há a certeza de que não emite qualquer grama de CO2. Só será 100 por cento amigo do ambiente se, em primeiro lugar, os materiais e o seu processo de produção tiverem em conta essas preocupações, nomeadamente através do tipo de materiais e dos processos energéticos utilizados até ser posto à venda no mercado. Em segundo lugar, será ‘eco’ se a energia eléctrica que consumir for adquirida em períodos do dia em que a energia é mais barata e com maior peso da produção renovável, nomeadamente os parques eólicos. Caso contrário, a ideia verde será apenas teórica.
Que carros eléctricos vão beneficiar com a rede em construção em Portugal?
Apesar de a aliança com a Renault Nissan ter sido o motor para o arranque da construção da rede de alimentação para os carros eléctricos em Portugal, ela vai servir todas as marcas de veículos eléctricos que venham a surgir no mercado. Isso obrigará, por exemplo, a uma harmonização de características de equipamentos entre construtores e empresas abastecedoras.
E preços e consumos?
Os construtores prometem carros a preços competitivos, mas falta ver na prática. Quanto a consumos, as projecções disponíveis (revelados pelo PÚBLICO em Março passado) indicam que com a chegada de um carro eléctrico, uma família portuguesa com um consumo anual de 3Mwh – equivalente à média nacional de consumo doméstico -, duplicará muito provavelmente este consumo. A nova conta de “combustível” deverá ficar, assim, por 300 euros/ano (600 euros no total), isto tendo em conta que três pressupostos foram cumpridos: que se tratam de veículos que não fazem mais do que 10 mil quilómetros por ano, que o seu carregamento foi feito no período de vazio nocturno da tarifa bi-horária e que se tem por base uma dos dois milhões de famílias portuguesas que registam este nível de consumo. A EDP estima que a venda de energia para os carros eléctricos pode chegar a render-lhe dois mil milhões de euros, segundo o seu presidente executivo, António Mexia, citado pelo semanário Expresso.
Por que os carros eléctricos têm demorado tanto tempo a surgir?
A aparente abundância de petróleo no século XX foi o grande argumento da indústria petrolífera, já de si poderosa, desencorajando a inovação tecnológica – o que fez com que o mundo ande há mais de um século com os mesmos motores de combustão interna, quando a ciência e tecnologia evoluíram significativamente em muitas outras áreas. Entretanto, surgiram preocupações económicas, ambientais e políticas. Os sinais de diminuição de recursos petrolíferos foram aumentando, as sociedades ocidentais assumiram que o consumo de petróleo causa graves impactos ambientais, associando-o ao efeito de estufa e, por fim, os políticos fizeram da energia e das alterações climáticas a sua última grande bandeira. Com as políticas restritivas de emissões de CO2, chegou o tempo para os carros limpos.n