Concentração estende-se à produção
HiperSuper
17 de Março de 2009
A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) apresentou ontem, Segunda-feira, um estudo da Roland Berger que contradiz as recentes afirmações do presidente da Centromarca, Duarte Raposo Magalhães, tendo considerado ao Jornal de Negócios que “Portugal tem das mais elevadas taxas de concentração da distribuição”. O estudo “O Poder de Mercado da Indústria e da Distribuição” conclui que a quota dos cinco maiores retalhistas a actuar no mercado português é de 64%, adiantando António Bernardo, partner da Roland Berger, que “este valor está claramente abaixo dos principais países europeus”. Após aquisição do Carrefour, a Sonae Distribuição lidera o mercado com 21% (soma dos 18% com os 3% do operador francês comprado em 2007). Em segundo lugar aparece a Jerónimo Martins com 16%, resultado da soma dos 15% da JM ao 1% da operação Plus adquirida em final de 2007. Já os Mosqueteiros aparecem como a terceira “força”, detendo 11%, seguidos pela Auchan (9%) e Lidl (8%). Ora, a análise efectuada pela Roland Berger, tendo por base os mercados no final do exercício de 2007, revelam que a concentração do retalho alimentar português passou de 60 para 64%, muito distante dos 91% da Suécia, 85% da Suíça, 83% da Estónia, 81% da Dinamarca, 67% da Alemanha, 65% da França e ligeiramente acima dos 63% da Holanda, 60% da Espanha ou 59% do Reino Unido. Também na densidade de superfícies comerciais (habitantes servidos por unidade em 2006), Portugal está bem longe dos líderes europeus. Ou seja, se em França existe um hipermercado para mais de 43 mil habitantes, a média europeia situa-se nos 53.517, enquanto a realidade portuguesa indica que cada hipermercados serve mais de 139 mil habitantes. Também nos formatos supermercados, discount ou lojas de conveniência, Portugal está muito longe da média europeia que apresenta uma loja por mais de dois mil habitantes, enquanto no nosso País a realidade é de uma loja para 3.242 habitantes. O único formato onde Portugal está abaixo da média da UE é no comércio tradicional, onde cada loja serve 518 portugueses, enquanto na UE o valor é de uma loja por 1.358 habitantes. Para atingir a média europeia, e segundo as contas efectuadas pela Roland Berger, os grupo de distribuição alimentar a actuar em Portugal teriam de abrir mais 117 hipermercados e 1.873 supermercados ou lojas discounts, representando isto um aumento de 132% nos formatos maiores, mais 50% nos supers/discounts/conveniência, enquanto o comércio tradicional teria de reduzir em 62% o número de lojas para ir ao encontro da média europeia.
Com o mercado nacional assente em três grandes grupos de fornecedores, os dados da Roland Berger revelam que as classes de produtos alimentares mais relevantes são dominadas pelos três maiores fabricantes, indicando que os três maiores fabricantes têm uma quota conjunta de 61% das vendas das principais categorias de produtos, em Portgual.
Isto é, tendo como exemplos segmentos como o leite (Lactogal, Bel e CAPLP), iogurtes (Danone, Nestlé, Lactogal) ou cereais (Nestlé, Kellogg´s, Weetabix), os dados revelam que a indústria controla 72, 63 e 76% do mercado, respectivamente. De resto, só em segmentos de produtos como peixe congelado, queijo ou pão embalado é que os três principais players da indústria não dominam o mercado. Também no sector das bebidas a situação é semelhante, detendo os três principais players do mercado das cervejas 85% de quota, nos vinhos (12%), nas águas (40%) e nos sumos com gás (84%). Nos frescos, área cada vez mais importante no retalho alimentar, os três maiores grupos asseguram a venda de cerca de 40% dos produtos, destacando-se a prestação no peixe e marisco (45%), ovos (46%) ou bacalhau seco (55%), enquanto nos legumes e verduras (36%), carne /35%) e pão de padeiro (28%) o peso da distribuição é menor. De resto, António Bernardo admite que “nas categorias onde a Distribuição Moderna tem mais peso, os preços têm menos variação”, admitindo que “os ganhos de eficiência com a concentração passam directamente para o consumidor”. Aliás, de acordo com os dados avançados pela Roland Berger, entre 2003 e 2007, “os preços dos produtos alimentares vendidos através da Distribuição Moderna cresceram em média menos do que aqueles onde este formato tem menor peso”, destacando ainda que “em Portugal, os preços médios das principais classes de produtos alimentares dominadas pela Distribuição Moderna registaram aumentos inferior à inflação”. Salientando que o “consumidor é favorável à concentração, possuindo uma avaliação positiva do desenvolvimento da Distribuição Moderna devido a preços baixos e diversidade de formatos de loja”, o partner da Roland Berger concluiu que “existe um grande nível de concorrência na Distribuição Moderna nacional” e que as marcas próprias da distribuição “possuem ainda um grande potencial de crescimento” Do lado da distribuição, José Silva Ferreira, presidente da APED, não entende “a necessidade da criação de mais um entidade reguladora”, admitindo que “a Autoridade da Concorrência é suficiente para efectuar esta regulação”. O responsável pela associação admitiu ainda “não ser previsível haver mais concentração na Distribuição Alimentar,ao contrário da indústria”, salientando que as marcas próprias da distribuição detém actualmente 26% de quota e que são “entre 26 e 40% mais baratas”.