Os profissionais da publicidade e do design não param de fazer nascer negócios. É possível que as marcas H3 (que tem como um dos sócios Albano Homem de Mello) e a Nata Lisboa (lançada, entre outros, por José Carlos Campos, director criativo da Strat) sejam as mais conhecidas do grande público. Mas há lojas, marcas de roupa, serviços de decoração e outros projectos inovadores que pretendem afirmar-se no mercado. Uns estão a dar os primeiros passos. Outros já exportam. Conheça estes projectos em pormenor.
Uma Mona que é uma loja
Abriu a 5 de Dezembro na rua das Janelas Verdes, em Lisboa. A Mona podia parecer à primeira vista uma loja de objectos de design. Na verdade é um espaço para ideias que nasceu pela mão de Nuno Cardoso (sócio e director criativo da Nossa) e de Patrícia Nunes Pedro (estava na Gulbenkian e já tinha passado por agências como a Lintas e a EuroRSCG).
“Quando viajávamos ficávamos encantados com as lojas de apoio dos museus, como é o caso da da Tate. Mas este é um conceito novo criado em Portugal, que valoriza as nossas coisas. Nós não somos uma loja de gifts. Gostamos de dizer que somos uma loja de ideias”, conta ao M&P Nuno Cardoso. Além de peças insólitas, aqui encontram-se vários trabalhos artísticos de criativos nacionais. Marco Dias (Atelier 2034) tem aqui à venda os seus desenhos dos jogos de sueca no Jardim da Parada, em Campo de Ourique. O expositor dos objectos tem três metros de altura por seis de comprimento e tem a forma de uma lâmpada. É em cartão e ocupa o centro da loja. Os preços dos objectos variam entre um euro e os 1.800 euros de um sofá da ZeroDois. Estes primeiros meses transformaram a Mona num case study de relações públicas. A loja, além de ter sido notícia em vários meios, foi capa do Jornal de Negócios e do I. O programa Falar Global já foi lá gravado. A Mona está aberta de terça a sábado, das 11h às 19h.
A roupa feliz de Graça Martins
Estávamos em 2010 quando Graça Martins começou a fazer roupa por medida, usando a marca Bainha de Copas. O pontapé de saída foi quando lhe começaram a pedir para fazer a roupa como a que ela vestia. “Eram peças pouco óbvias, saias-abelha com bolsos de asas, aplicações de cavalos-marinhos nos cintos ou saias de dupla face com ovos estrelados em crochet. Tudo vestido com grande convicção, porque gostava mesmo das caras de riso que aquilo provocava, a começar pela minha, logo pela manhã”, conta Graça Martins, brand strategist da Mola Ativism. “Esta roupa faz as pessoas felizes. E gente feliz vive mais e vive melhor todos os dias. Acredito nisto”, reforça. Nas viagens que fazia dava por si à procura de tecidos e materiais diferentes. Em Barcelona encontrou uma loja de tecidos japoneses, “não consegui comprar nenhum porque eram caríssimos, mas não descansei até perceber de onde os poderia mandar vir. Anos depois fui à fonte, a Nipori, Tóquio, buscá-los”, relembra.
De uma máquina de costura passou para a produção industrial. O que era um negócio para amigos e conhecidos, alargou-se às vendas online e às lojas. A empresa foi formalmente constituída no ano passado. Depois da presença numa feira em Tóquio, na Modtissimo e na Moda Lisboa, a Bainha de Copas está a tratar da exportação para o mercado japonês com a ajuda da AICEP e está a seleccionar “alguns pontos de venda para o segmento premium”, detalha Graça Martins. “Estou a montar a equipa para dar resposta ao grau de exigência crescente em relação a processos de produção, selecção de materiais, verificação de qualidade, etc.”, conta. Graça Martins faz questão de ter peças que consigam chegar a diferentes segmentos: “O objectivo foi criar uma marca universal, com produtos acessíveis, como as carteiras de 8,50 euros ou os vestidos camiseiros de algodão, até aos lenços e vestidos de seda ponto cetim, impressos digitalmente, feitos por medida manualmente, e direccionados ao mercado nacional com maior poder de compra e ao mercado internacional”, remata.
Ovos moles em Campo de Ourique
A Casa dos Ovos Moles em Lisboa abriu portas no reformulado Mercado de Campo de Ourique (Lisboa) pela mão de Filipa Cordeiro e Maria Dagnino. Filipa Cordeiro (40 anos) começou a carreira em 1995 como estagiária na McCann Erickson, sendo actualmente brand manager na Brandia Central. Já Maria Dagnino (39 anos) tem uma experiência de 15 anos de produção de eventos nas agências Maismercado, Central de Comunicação e Brandia Central. “Há cerca de um ano resolvi deixar a produção de eventos para me dedicar a 100 por cento a esta ideia que, muito rapidamente, se tornou num projecto ligado à divulgação e promoção da doçaria conventual portuguesa”, conta Maria Dagnino. Além dos Ovos Moles de Aveiro, podem ser encontrados o Pão-de-ló de Ovar, o Pastel de Tentúgal ou o Pastel de Vouzela. O espaço está aberto de quinta a sábado, das 10h até à 1h, e das 10h às 23h nos restantes dias.
As t-shirts de João Geada
“Adoro t-shirts, sou coleccionador aficcionado e utilizador convicto, tenho-as classificadas como: ‘práticas’, ‘giras’ e ‘de atitude’, e enquanto profissional da comunicação asseguro que qualquer uma delas pode, no enquadramento certo, tornar-se num óptimo meio de publicidade que, não só é grátis para o anunciante, como inclusivamente por vezes o consumidor paga para anunciar.” Era desta forma que João Geada confessava a sua paixão por t-shirts numa artigo publicado no Diário Económico em 2007. Sete anos depois, o director criativo da zémaria lançou a marca Unrule – breaking one little rule at a time, que tem como primeiro produto as t-shirts Takeiteasy. Trata-se de uma t-shirt com aplicações de velcro que permitem levar pequenos objectos na própria peça de vestuário. Estão à venda no site Unrule.us e na loja Mona.
“Gosto de usar as ideias para resolver problemas e como sou daquelas pessoas que anda sem carteira, com os bolsos cheios de tralha e odeio aquelas cenas maricas para colocar o iPhone quando corremos, criei as t-shirts Takeiteasy, que são apenas a combinação de uma t-shirt com aplicações de velcro que permitem levar pequenos objectos na própria t-shirt”, conta. Dois dias bastaram para escolher o nome e fazer o logótipo e o site do projecto. “Agora que tenho a plataforma básica montada vou começar a experimentar marketar as Takeiteasy e outras ideias”.
E o que pode vir a seguir? “Tenho intenção de desenvolver designs que combinam estampagem com as aplicações de velcro, mas que só irão avançando com o próprio dinheiro gerado das vendas do primeiro modelo ou dos eventuais crowdfundings a que concorri”. Uma ideia já estruturada é a das Tweeshirts, que são t-shirts com tweets. “Vamos desafiar os utilizadores do Twitter a fazer tweets dignos de ser ‘imortalizados’ em t-shirts bastando fazerem-nos com a hashtag #tweeshirts. Depois são os próprios utilizadores que escolhem quais serão produzidas pelo número de favoritos e retweets”, descreve João Geada. O criador dessas mensagens irá receber um euro por cada camisola vendida.
As receitas de génio da Alexandra
Em 2010 Alexandra Capelo cruzou-se com o relato de uma americana num site em que contava que tinha dado as boas-vindas a uma vizinha oferecendo um bolo numa garrafa de vidro. “O artigo chamou-me a atenção. Considerando-me target, uma vez que lá em casa imperava a falta de tempo, falta de produtos para bolos e acima de tudo falta de paciência para estar na cozinha, comecei a pensar seriamente no assunto. Além disso, sempre fui muito céptica em relação às misturas que se vendem no supermercado. Após conversar com algumas colegas de trabalho na agência onde trabalhava, fiquei com a certeza do potencial do projecto”, conta Alexandra Capelo, arte finalista que já passou pela Brandia Central e pela Mola Ativism. Assim nasceu a Aladina – Receitas de Génio.
Quem tiver um frasco de uma Receita de Génio da Aladina, só precisa juntar os ingredientes líquidos, como leite ou ovos, aos ingredientes dos frascos de vidro. Há já receitas de bolos, bolachas, gomas, muffins, bombons de chocolate, salame de chocolate, arroz doce e aletria e, mais recentemente, os duos de chocolate (preto e branco). Os preços variam entre os quatro e os 16 euros. Além de ter o Facebook como canal de vendas, tem participado em várias feiras. “O objectivo para 2014 passa por profissionalizar o projecto. Aumentar a rede de lojas que revendem o produto em Portugal e apostar no estrangeiro”, aponta Alexandra Capelo.
Os monstrinhos da Susie
“Muitas pessoas até acham que sou psicóloga, e não sou. Sou apenas uma designer que muitas vezes vive no mundo da fantasia onde tudo é possível e as pessoas estão sempre a sorrir.” É desta forma que Susana Albiero, designer da Mola Ativism, explica o conceito O Meu Monstrinho. A ideia surgiu no trabalho, a partir da vontade de aproveitar retalhos de tecidos da Bainha de Copas, de Graça Martins. “A ideia de fazer bonecos surgiu logo no início, mas não queria fazer bonecos apenas por fazer. Queria que tivessem um significado maior, e uma vida própria. Após ver um desenho da filha de outra colega de trabalho, entre muita conversa e diversão surgiu o O Meu Monstrinho e com ele a vontade de trabalhar com os medos das pessoas”, relembra. Susana ouve os medos das pessoas e materializa-os num boneco. Daí que nenhum seja igual. “Gosto sempre de frisar que um monstrinho não tem a pretensão de curar nenhuma doença, apenas é uma forma de encarar os nossos medos de uma maneira divertida e colorida”, acrescenta.
Os monstrinhos personalizados custam entre os 45 e os 60 euros, havendo ainda espanta-medos (porta-chaves ou quadros) com preços mais baixos. “Os monstrinhos são sempre uma surpresa para quem encomenda, e por isso é feito previamente um orçamento que é enviado ao cliente. Só após aprovação é que o monstrinho entra ‘no forno’ da Terra dos Monstrinhos”.
As encomendas chegam por e-mail e via Facebook. “Muitas lojas online têm entrado em contacto comigo para que eu tenha os meus produtos à venda neste tipo de plataformas, principalmente as lojas que querem dar maior destaque a produtos portugueses. Graças a isto, tenho desenvolvido produtos que não precisem de uma personalização profunda, e que facilitem a produção possibilitando a venda ao público em lojas físicas e online”, conta Susana Albiero.
A decoradora Ana Greggio
Ana Greggio trabalha na DNA, a área de design do grupo Young & Rubicam, depois de passar pela Euro RSCG Design e pelo 37 Design. Em Novembro de 2012 começou a dar forma à Metros Menos Quadrados, um serviço de decoração e valorização de interiores. Na génese deste projecto estavam os “pequenos makeovers” gratuitos nas casas de amigos, que consistiam em “aconselhamentos sobre como dar uma cara nova a uma divisão sem gastar muito tempo ou muito dinheiro. É recorrente pedirem-me esse tipo de dicas”. Teve de ser uma amiga a lançar-lhe o desafio: “Porque é que não fazes um negócio daquilo que já fazes de borla para os amigos?”
E quanto a preços? “Criei o sistema de packs, para balizar e organizar a coisa de forma a que não aconteçam surpresas no fim”, conta. Um quarto de bebé ou criança pode ir dos 490 aos 2000 euros, dependendo do nível da intervenção. Estes valores contemplam projecto, compra dos objectos e implementação.
Ana Greggio detesta os “‘ambientes de decoradeira’, aquelas casas em que tudo combina com tudo, onde tudo está estrategicamente colocado em sítios certos e onde parece que não vive ninguém”, aponta ao M&P. Aliás, a ideia que está por trás dos Metros Menos Quadrados é exactamente a do “anti-secorador-caro-demorado-e-inacessível”. O objectivo é criar ambientes cuidados, mas que combinem peças novas com a história da pessoa e da casa. “A ideia é renovar, não transformar radicalmente”, sintetiza.
O Estado d’Graça da Nini
Os bustos de Nini Cunha Rego podem ser encontrado no Hall Chiado e no Honorato Hambúrgueres Artesanais, sendo vendidos sob a marca Estado d’Graça. “São as peças mais caras do meu Estado. Adoro os meu bustos e tudo o que os rodeia. A começar por aquele comentário de elevador, ‘ó menina que lindo busto que aí tem’, quando vou fazer uma entrega. Todas as bases dos bustos do Estado d’Graça são em segunda mão, foram apanhadas no lixo ou compradas de lojas que infelizmente fecharam ou mudaram de ramo. Desta forma, conseguimos aliviar um pouco o ‘peso’ de alguém à nossa volta quando ao mesmo tempo damos uma nova vida à sala ou quarto de alguém”, conta Nini Cunha Rego, que actualmente representa as marcas Carand’ache, a Zippo e a Pepin Books em Portugal. Antes disso passou pela BP, SIC, BBDO, Publicis, Novo Design, Santafé Associates, Benext e Mola Ativism. A marca Estado d’Graça é o resultado “de um período de insónias que se seguiu à partida da minha melhor amiga e mãe – Maria da Graça, para um mundo que espero e acredito ser melhor”, confidencia Nini Cunha Rego, que também cria objectos decorativos e assessórios. E qual o canal de vendas privilegiado? “É super mega profissional: o B2B, boca-a-boca. Um que vê, que mostra ao outro; outro que gosta que passa ao próximo e assim sucessivamente”, aponta.
Os carpaccios de Inês e Alessandra
Decidiram seguir as pegadas dos maridos que há três anos abriram a primeira loja da rede de restauração O Prego Gourmet. Inês Simas, responsável pela comunicação da Fullsix Portugal, e Alessandra Miranda, que trabalha na Next Models, abriram há três semanas no Mercado de Campo de Ourique a Contessa, um espaço especializado em carpaccios. “É muito comum ouvirmos dizer que as mulheres conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Acho que somos um exemplo disso. O que se torna mais fácil, quando aliado a um tipo de negócio de que gostamos, e mais ainda num sitio com o qual nos identificamos a 100 por cento”, conta Inês Simas. “O carpaccio não é um tipo de refeição comum em Portugal. É uma refeição por natureza cara, e a percepção da generalidade das pessoas é que é apenas uma entrada. Estamos aqui para tentar provar o contrário”, complementa Alessandra Miranda.
18 de Março de 2014 às 17:59:29, por RUI OLIVEIRA MARQUES, Meios&Publicidade