A Internet e as novas tecnologias não têm vindo a matar as relações sociais entre indivíduos, tornando-os ainda mais isolados. Pelo contrário. De acordo com um estudo levado a cabo pelo Centro de Pesquisa Pew Internet, os internautas que usam redes sociais como o Facebook e os utilizadores de telemóveis estabelecem mais contactos sociais e têm redes de discussão mais alargadas do que as pessoas que não fazem uso das novas tecnologias, indica o estudo levado a cabo pelos investigadores da Universidade da Pensilvânia, depois de terem entrevistado 2512 cidadãos americanos. “Concluímos que o sentimento de isolamento social não mudou muito, por comparação com 1985”, época em que a Internet e os telemóveis ainda não existiam para o grande público, indicam os autores do estudo, Keith Hampton e Lauren Sessions. “Nós hoje temos a tendência para culpar a tecnologia quando assistimos a mudanças sociais, mas esta é a primeira pesquisa que explora as conexões entre utilizadores, novas tecnologias e isolamento social, e concluímos que se passa o contrário. Aqueles que utilizam a Internet e o telemóvel retiram daí vantagens sociais notáveis”, indicou Keith Hampton citado pela AFP. Paralelamente, as pessoas que mais usam a Internet e o telemóvel têm mais hipóteses de virem a pertencer a projectos locais de voluntariado. O estudo sugere igualmente que o uso da Internet não inibe as pessoas de frequentarem sítios públicos, como parques, restaurantes, bibliotecas e cafés. Na realidade, esta tecnologia está associada a uma maior frequência destes locais, apesar de Keith Hampton ressalvar que não ficou claro se o uso da Internet faz alargar os círculos sociais das pessoas ou se as pessoas que já têm um círculo social alargado simplesmente usam mais a Internet. Seja como for, as conclusões deste estudo servem para contrariar as preocupações que dão como garantido um maior isolamento social nos EUA desde o aparecimento da Internet, sobretudo depois de um estudo de 2006 – levado a cabo nas universidades Arizona e Duke – que concluiu que os americanos sem “ninguém para discutir assuntos importantes” tinha triplicado de 1985 para 2004. O mesmo estudo concluiu então que o perímetro social das pessoas tinha diminuído em cerca de um terço. Mas este novo estudo, apesar de confirmar que as redes sociais dos indivíduos têm vindo a diminuir, conclui que as pessoas que usam telemóveis e Internet contrariam esta tendência. Por exemplo, os inquiridos que disseram ter um telemóvel têm uma rede central de pessoas com quem debatem temas importantes maior em cerca de 12 por cento, por comparação com aqueles que não têm telemóvel. Aqueles que usam a Internet para instant messaging e partilhar fotografias têm redes de discussão maiores em cerca de nove por cento – e é mais provável que venham a discutir matérias importantes com pessoas que não são da sua família. Estas conclusões contrastam com a noção generalizada que a tecnologia poderá “fazer com que as pessoas se afastem da vida real”, indicou Lee Rainie, que dirige o projecto Pew Internet. Passar tempo em redes sociais, diz Rainie, dá às pessoas “novos poderes para se ‘estenderem’ a elas e ‘estenderem’ os seus interesses”.n
Público, 06.11.2009
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